Imprevisibilidade. Tratando-se de partidas de futebol, é característica onipresente e atemporal. Responsável direta pela mística do esporte e protagonista de partidas antológicas. Episódios como a final da Copa do Mundo de 1954, em que a Alemanha Ocidental derrotou a Hungria, e a famigerada Batalha dos Aflitos, são difíceis de ocorrer em outros esportes devido à maneira surpreendente de como seus roteiros se desenrolaram. Porém imprevisibilidade que se preze tem de surpreender também negativamente. As finais das útimas três copas do mundo não foram partidas tão vistosas quanto se esperava, terminando em empates bem aquém das expectativas, apelando para prorrogações e penalidades. Além delas, a própria primeira partida da final da Copa do Brasil 2014, entre Atlético-MG e Cruzeiro, foi um jogo decepcionante. O natural nervosismo que circunda um clássico decisivo de proporções internacionais é a desculpa mais recorrente.
Iniciei o texto, caro leitor, com esse “arrudeio” todo, para encaixar o jogo entre Boca Júniors e Ríver Plate, válido pela primeira partida da semifinal da Copa Sulamericana 2014, como uma dessas surpresas negativas que a tal da imprevisibilidade traz.
As expectativas para o reencontro entre os dois maiores clubes argentinos numa competição internacional obviamente eram altíssimas, porém a pouca inspiração, muita violência e, consequentemente, muitas faltas por parte dos jogadores trataram de frustrar a idealização de quem aguardava bom futebol. Há quem admire a superação da “raça” sobre a técnica, este que vos escreve discorda frontalmente desse pensamento.
Típico jogo em que o critério para aplicação de faltas e cartões fica mais alto. Juizão faz vista grossa para “faltinha”. O primeiro dos vários cartões amarelos, punição banalizada durante os 90 minutos, saiu aos 4 minutos de jogo; além das 17 faltas marcadas antes dos 30 minutos da primeira etapa. O primeiro tempo terminou com apenas 4 chutes do Boca ao gol e nenhum do Ríver.
Confesso que quase desisti de acompanhar a segunda etapa, mas resolvi ignorar a tonelada de afazeres da faculdade e, ainda que com um leve arrependimento, assistir o resto do jogo.
A falta cometida pelo jogador do Ríver aos 20 segundos de jogo antecipava que, para a surpresa de ninguém, o segundo tempo seria uma cópia do primeiro. Destaque apenas para Téo Gutierrez. O atacante do time visitante finalizou “de letra” aos 11 minutos e levou perigo ao gol do Boca. O lance deu uma rápida trégua no pragmatismo e fez o jogo parecer até clássico valendo vaga em final de competição internacional.
“Jogo em que o placar é nota”. Jargão condizente com o que aconteceu noite passada, numa Bombonera lotada por 49 mil pessoas.
Para o próximo confronto, no Monumental de Nuñes, arrisco dizer que será um episódio semelhante. Vamos ver o que a imprevisibilidade dirá.