No último domingo, Messi quebrou mais um recorde. Alcançou os 86 gols no ano de 2012, ultrapassando a Marca de Gerd Muller, que havia marcado 85 gols em 1972. Números, números , números. Chegar aos mil gols, conquistar três Copas ou fazer um gol de mão contra a Inglaterra, nada disso é necessário para que Lionel Messi se torne o melhor jogador de todos os tempos. Aliás, quem disse que temos que escolher o melhor?
Messi comemora o seu 86° gol em 2012
Alguns viram Di Stéfano e Pelé, outros viram Maradona e Cruyff, eu vi Ronaldo, Zidane, e estou vendo a história sendo reescrita com Messi. Não se sabe se ele é o melhor de todos os tempos, o certo é que estamos vivendo a sua era.
Ele é o ápice da objetividade, tem a noção de posicionamento digna de um 9, com a inventividade e criatividade de um 10. Digamos que Messi é um 9,5. Junta-se a isso a extrema facilidade com que controla a bola, ela gosta de estar perto do pé esquerdo dele, na conhota de Messi, ela encontra conforto, ela sabe que está segura, podem vir Pepe, Materazzi e Odvan, de lá ela não sai.
Tão gênio quanto humilde, Messi faz seu marketing única e exclusivamente dentro de campo. Certamente, ninguém nunca vai imitar o seu corte de cabelo, opinar sobre a nova polêmica envolvendo seu nome, ou admirar a nova modelo que está namorando. Messi é avesso ao rótulo de popstar que cerca os jogadores de futebol.
Ele é humilde até jogando bola. Messi sabe driblar, sabe pedalar, sabe dar lambreta, mas só faz se isso o levar ao caminho do gol. Talvez a demasiada busca por esse caminho seja a forma mais humilde que Messi encontrou para mostrar toda sua qualidade.
A alegria dele é ouvir o Camp Nou e o Monumental de Nuñez gritando seu nome. O que o argentino gosta mesmo é de jogar bola, e como é bom vê-lo jogando. No fim das contas, o único número relevante é o número de anos em que ele continuará jogando assim. Messi é maior que números.
O time titular do Brasil na Copa de 2006 pode ser considerado, no papel, como um dos mais fortes da história. Se formos contar também com alguns reservas, era uma verdadeira constelação. No comando técnico, dois monstros sagrados da seleção: Carlos Alberto Parreira, tetracampeão mundial em 1994 e Mário Jorge Lobo Zagallo, lenda que dispensa apresentações. A estreia no torneio foi um tanto quanto retraída, contra uma Croácia sem grande brilho, mas com o goleiro Pletikosa inspirado. Vitória magra por 1×0 com um chute de longe de Kaká com a perna esquerda. Primeira impressão não muito positiva, mas aceitável. O segundo duelo, contra a Austrália de Guus Hiddink, animou um pouco mais. O ainda imperador Adriano e o jovem Fred, hoje no posto de artilheiro do Brasileirão, foram os autores dos gols. No confronto contra o Japão, com a classificação já nas mãos, Parreira resolveu testar novos jogadores e dar um descanso a alguns medalhões. O time jogou mais leve e solto, fazendo 4 gols, embora tenham sofrido o primeiro. A partida na qual Ronaldo finalmente desencantara, fazendo 2 gols, Gilberto e Juninho Pernambucano completando o placar. A passagem para as oitavas-de-final estava confirmada, e enfrentar Gana foi pouco mais que um exercício. 3×0, e o ‘Fenômeno’ tornou-se o maior artilheiro de todas as copas.
Em pé: Dida, Adriano, Juan, Kaká, Lúcio e Cafu. Agachados: Ronaldo, Ronaldinho, Zé Roberto, Roberto Carlos e Emerson
O jogo válido pelas quartas-de-final de 2006 foi bem traumático e pôs fim a um ciclo vitorioso da seleção. Após a eliminação, vários nomes de peso como Dida, Roberto Carlos, Cafu, Emerson e Juninho Pernambucano jamais voltariam a vestir a camisa amarela oficialmente. Alguns deles saíram execrados pela mídia e pela torcida, como o caso de Roberto Carlos, apontado como suposto causador da derrota frente a Zidane e companhia ao ter ficado ajeitando o meião durante a cobrança da falta que resultou no gol. Esperava-se demais daquele elenco rico e estrelado. O tão cantado “quadrado mágico” ofensivo (Kaká, Ronaldinho, Adriano e Ronaldo) imposto pelo treinador falhou em seus intentos, decepcionando quem nele tanto depositou confiança.
Kaká e Zidane disputam a bola
Em momento algum esse quadrado funcionou de fato, as jogadas de (pouca) criatividade eram realizadas através dos jogadores mais recuados para que os ofensivos finalizassem, pois os dois atacantes não tinham tanta mobilidade e 0s meias não estavam inspirados. Um dos fatores da derrocada verde e amarela no Mundial. Os franceses se aproveitaram disso e foram cirúrgicos. Quando não se dava mais nada pelo craque da camisa 10 dos Bleus, ele foi lá e provou que a idade nem sempre é peso para os gênios da bola. Zidane simplesmente destruiu o esquema brasileiro e mereceu aplausos de pé por sua atuação de mestre naquele 1º de julho de 2006, em Frankfurt.
Mestre do fino trato com a bola, Zidane foi um opressor sobre os brasileiros naquele jogo
Seria o primeiro grande teste da Canarinho. A torcida estava agora desconfiada, e a imprensa caía em cima. Ouvia-se sobre estrelismo e salto alto, mas se falava que eram apenas boatos. Estava ‘tudo bem’ e esperava-se uma classificação sobre a França, por mais que fosse apertada. Os minutos iniciais até que renovaram um pouco as esperanças de quem acompanhava. Os comandados de Raymond Domenech eram pouco incisivos à meta dos brasileiros, que dominavam razoavelmente os rumos da bola, mas enfrentavam uma dura marcação. A defesa francesa era composta essencialmente zagueiros e laterais defensivos, além de uma cabeça-de-área formada por dois monstros (Claude Makelelé e Patrick Vieira), o que dificultava a vida do ataque tupiniquim.
Ronaldinho Gaúcho foi considerado um dos “mascarados” daquela Copa
O tempo foi passando e o jogo ficando equilibrado. Inércia e apatia foram tomando conta de alguns do time do Brasil, e a França foi crescendo de produção, ficando cada vez mais perigosa. Foi então que, no segundo tempo, a bomba estourou. Os laterais estavam ineficientes, então os zagueiros tiveram que se esforçar em dobro. Então, aos 12 minutos, Lúcio foi fazer a cobertura de Cafu e acabou cometendo uma falta pela esquerda de ataque. Zidane, com toda sua categoria e maestria, foi executar a cobrança, o tiro fatal. A bola é cruzada na área, ninguém intercepta, passa por Malouda e Thierry Henry completa pro gol.
Bateu o desespero, claro. Estava indo por água abaixo o sonho do hexa. O time estava desarrumado e desnorteado, andavam em campo os arautos do descaso. De repente, aquele choque do gol. Parreira viu que a escolha na hora da escalação havia sido errada e tentou consertar, embora tenha demorado mais do que o normal para fazê-lo. Quis bancar o ofensivo colocando em campo mais dois atacantes, o que fez a equipe se mostrar mais desorganizada ainda. Viu-se então o show do gênio. Zidane desfilava sua elegância e classe no gramado, um belo show de bola, com passes, arrancadas, lançamentos e alguns dribles, incluindo um chapéu num abatido Ronaldo. Medina Cantalejo, o árbitro espanhol, cansou-se da aula de futebol e orquestrou o apito final, encerrando de forma dramática e teoricamente prematura a participação da “pátria de chuteiras” na Copa da Alemanha. Nelson Rodrigues teria ficado envergonhado com aquela apatia.
Ronaldo assistiu de camarote seu então companheiro de Real Madrid dar um show com a bola
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Ficha técnica do jogo
Brasil 0 x 1 França – 01/07/2006 – Quartas-de-final.
Commerzbank Arena -Frankfurt, Alemanha.
Público: 48.000 pagantes.
Brasil: Dida, Cafu (Cicinho), Lúcio, Juan e Roberto Carlos; Gilberto Silva, Juninho Pernambucano (Adriano), Zé Roberto e Kaká (Robinho); Ronaldinho e Ronaldo. Téc.: Carlos Alberto Parreira.
França: Fabien Barthez, Willy Sagnol, Lilian Thuram, William Gallas e Éric Abidal; Claude Makelelé, Patrick Vieira, Franck Ribéry (Sidney Govou), Florent Malouda (Sylvain Wiltord) e Zinedine Zidane; Thierry Henry (Louis Saha). Téc.: Raymond Domenech.
Gol: Thierry Henry, aos 12 minutos do 2º tempo.
Cartões amarelos: Cafu (25 do 1º tempo), Juan (45 do 1º tempo), Ronaldo (47 do 1º tempo), Willy Sagnol (29 do 2º tempo), Lúcio (30 do 2º tempo), Louis Saha (42 do 2º tempo) e Lilian Thuram (43 do 2º tempo).
Arbitragem: Medina Cantalejo (ESP), auxiliado por Victoriano Giraldez Carrasco (ESP) e Pedro Medina Hernandez (ESP)